quarta-feira

Morto a tiro em casa por causa de carro

Jornal "Diário de Notícias", de 1 de Setembro de 2008

Os estranhos contornos que rodearam o homicídio de João Paulo, de 22 anos, baleado no peito e no pescoço por dois indivíduos, na noite de sábado, em Sesimbra, levam as autoridades a admitirem como "muito provável" ter-se tratado de um ajuste de contas, sendo que a Polícia Judiciária (PJ)já tem em sua posse elementos que podem levar à identificação do autor dos disparos, que estará ferido. O negócio de um automóvel poderá estar na origem deste crime, sendo que apesar do irmão da vítima afirmar nunca ter visto os indivíduos, as conclusões preliminares da investigação indicam que a vítima e o autor dos disparos se conheciam.
A PJ vai agora passar a "pente-fino" a vida da vítima e das três pessoas que a acompanhavam na hora do crime. A GNR chegou a fechar os acessos a Sesimbra, mas das 15 detenções efectuadas nenhuma estava relacionada com este crime, segundo revelou o porta-voz da Guarda, Costa Lima. Os suspeitos continuavam a monte à hora de fecho desta edição.
Eram 23.30. Localidade de Almoínha, às portas de Sesimbra. João Paulo, que, segundo os vizinhos, trabalhava num hotel em Lisboa, acabava de entrar em casa, no primeiro esquerdo do número 18 da rua Alfredo César Andrade, juntamente com o irmão Bruno e mais dois amigos. Tinham assistido juntos à transmissão televisiva do Benfica/Porto, no café Papagaio Verde. "Só tinham bebido sumos e foram logo para casa a seguir à bola", garantiu o proprietário do estabelecimento, que fica a escassos 20 metros da casa que João Paulo dividia com o irmão há mais de três anos.
Apesar da hora, os quatro jovens terão subido o volume da música no interior do apartamento, o que não os impediu de ouvir a campainha tocar. Bruno abriu a porta, sem ver de quem se tratava, tendo sido surpreendido pela abrupta entrada de dois indivíduos para o hall. Segundo o relato feito às autoridades por Bruno, os dois indivíduos pediam uma chave e apontaram um revólver. João Paulo, que estava no seu quarto, surgiu então e lutou com um dos indivíduos, agarrando-o por trás e imobilizando-o. Foi nessa altura que o segundo elemento apertou o gatilho por três vezes, acertando no peito e no pescoço da vítima, tendo uma terceira bala atingido a parede.
A vizinha do lado ouviu o barulho e ainda quis abrir a porta. "Mas o meu filho disse-me que ainda levava um tiro e fiquei-me". Já Bruno gritava por socorro à janela e pedia uma ambulância. O irmão estava esvaído em sangue no hall de casa.
Já na rua, a dupla viria a roubar um automóvelde um casal que tinha ido entregar o filho bebéà vivenda dos avós, por baixo do número 18. Começaram por apontar a arma à mulher, que já não tinha a criança consigo, mas acabaram por entrar no Renault Clio exigindo ao proprietário que conduzisse. Andaram cerca de um quilómetro até a um local onde os aguardava uma segunda viatura de cor escura, com um terceiro elemento (presumivelmente cúmplice) no seu interior. Depois de atirarem o telemóvel e as chaves do dono do Clio para o chão fugiram.
Quando os bombeiros de Sesimbra chegaram ao local, João Paulo já se encontrava em paragem cardiorespiratória, tendo sido accionado o INEM do Hospital Garcia de Orta, cuja Viatura Médica de Emergência e Reanimação se encontrava inoperacional, sendo substituída por uma VMER de Lisboa. A reanimação foi feita até perto da 01.00, mas João Paulo não sobreviveu aos ferimentos. A PJ de Setúbal ouviu as testemunhas que estavam no local na altura em que ocorreu o crime e está encarregue do caso.


Roberto Dores

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