domingo

Faleceu Maurício Costa

"Setúbal Na Rede", 1 de Março de 2006

O professor e presidente da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão (LASA), Maurício Pinto da Costa, faleceu na passada segunda-feira, aos 73 anos de idade, após doença prolongada. Quaresma Rosa, do conselho fiscal da LASA, conta que “o que ressalta de Maurício Costa é a obra, que deixou inacabada, e o incentivo àqueles com quem trabalhava”, descrevendo-o como “um homem leal, batalhador e amigo”.
Quaresma Rosa relembra a “lealdade” que Maurício Costa “sempre pôs nas relações, renegando visões partidárias e colocando à frente de tudo a sua cidade de eleição, Setúbal”. Um homem que “batalhou por esta cidade e que demonstrou sempre muita coragem e grande lealdade para com os opositores, transformando-os em seus amigos e sensibilizando-os para a sua luta por Setúbal”.
O membro da LASA destaca algumas acções e iniciativas de Maurício Costa, como a instituição do Prémio Bocage (concurso de poesia), através da LASA, que veio “projectar valores, o poeta Bocage e a cidade de Setúbal”, ou a campanha pela recuperação do Convento de Jesus, “para a qual ainda muito falta fazer”. Maurício Costa foi também um forte opositor da co-incineração na Arrábida, fazendo parte da Comissão de Acompanhamento Ambiental da Secil.
Maurício Costa era natural de Montemor-o-Novo, mas desde criança que residia em Setúbal. Licenciado em Biologia, exerceu a actividade de professor nas escolas Preparatória de Bocage, da qual foi director, e na Secundária de Bocage. Foi também primeiro secretário da Assembleia da Sociedade Setúbal POLIS e, sobretudo, “um defensor de diversas causas a favor desta cidade”, conclui Quaresma Rosa.

Cláudia Monteiro

A Valia das Questões Arquitectónicas

Jornal "O Sesimbrense", 24 de Fevereiro de 2006

Entrevista com Arquitecto José Carlos Trindade

José Carlos Trindade, arquitecto bem conhecido, devido aos seus excelentes projectos, fala-nos um pouco sobre a sua profissão, experiências e novas ideias para o nosso Concelho.

É sabido que os arquitectos elaboram projectos. Os engenheiros também fazem o mesmo. O que é que diferencia a actividade dos arquitectos?
O que acontece é que quando se fala de projectos, normalmente o que se está a falar não é de um projecto mas de um conjunto de projectos. Portanto isso quer dizer que a arquitectura funciona em multidisciplinaridade e não separada das outras especialidades. É um trabalho de convergência. Não há boa arquitectura de não houver boas engenharias.
Esta ideia de haver uma distinção entre arquitectos e engenheiros é de há muito uma ideia errada porque devem convergir na mesma direcção.
O papel do arquitecto pode ser comparável ao papel de um maestro na orquestra, é aquele que tem a visão global da coisa, e que desde a concepção até à conclusão da obra procura que todas as intervenções estejam afinadas com vista a um determinado produto final. Fala-se de arquitectura relati-vamente a uma pequena loja, como se pode falar de arquitectura uma cidade. Há nestes exemplos uma escala de inter-venção muito distinta.

Como é que se situa a sua actividade nestes níveis de intervenção?
Temos feito um pouco de tudo. Desde habitação, moradias, temos feito habitação colectiva, equipamentos colectivos, portanto edifícios que têm uma utilização para público, temos feito urbanismo com loteamentos e também planeamento urbano. De certa maneira temos corrido o leque todo.

As pessoas são muito exigentes no que respeita a habitações?
As pessoas têm ideias muito definidas. É muito raro podermos ter uma intervenção mais criativa ao nível das moradias porque as pessoas são cautelosas nas suas próprias ideias.

E em relação a espaços públicos? O urbanismo propriamente dito?
Temos feito muita coisa a nível de loteamentos. Temos uma experiência muito aprofundada ao nível da reconversão de loteamentos ilegais, que é um trabalho pouco valorizado, mas é um trabalho muito complexo.
Temos vários empreendimentos construídos em Sesimbra; estou-me a lembrar do Clube Naval de Sesimbra, que resultou muito bem, outro caso é o Centro Pastoral Bento XVI, que foi uma iniciativa da Paróquia do Castelo, e foi construída em tempo recorde e que já está a funcionar.
Mas também temos participado em outras obras que para mim são muito gratificantes, o caso da Piscina e da Sala de Desporto do GDS.

Os promotores imobiliários, os empreiteiros, os técnicos e os cidadãos em geral queixam-se da burocracia da administração pública. Na sua opinião o que é que está mal e o que podemos fazer para melhorar?
Vivemos num país em que trabalhamos muito para produzir pouco. E nesse processo, a administração pública tem um peso enorme, porque de um modo geral tende a tornar complexo aquilo que podia ser simples e a tornar lento o que podia ser rápido e isto tem um efeito perverso na economia.
Do meu ponto de vista o que é preciso ser feito: primeiro é necessário que haja vontade política para mudar. Neste momento acho que existe essa vontade política. Acho que estes últimos governos deram sinais de mudança concretos, depois o primeiro investimento devia ser na formação das pessoas.
Há necessidade de mudar a visão das coisas e de clarificar procedimentos, o que acontece normalmente na função pública é que há poucos que trabalham muito e há muitos que trabalham pouco. Depois as questões que têm a mais a ver com os procedimentos, tem de haver desmaterialização dos procedimentos administrativos, ou seja, hoje tudo se passa com papéis, tudo isto significa um imenso acréscimo de tempo, num mundo em que tudo funciona à “velocidade da luz”, como diz Bill Gates. Isto é um feito benéfico que pode tornar a administração transparente, coisa que a administração não é. A administração é uma máquina opaca, difícil, de um modo geral é um conjunto de dificuldades acrescidas para o cidadão. É sabido que estão em elaboração projectos de grande dimensão para Sesimbra, nomeadamente os projectos da Mata de Sesimbra.

O que lhe parece haver de positivo e de negativo nestes projectos?
Basicamente são dois projectos imensos, um a norte da Lagoa de Albufeira e outro a sul da Lagoa. Para ter uma ideia, em termos de área, estes dois planos correspondem a metade da área do Concelho de Sesimbra e em termos de população permanente significa mais 20 000 habitantes de população fixa e mais 20 000 de população flutuante.
Mas o que há são planos e os planos não são projectos.
Esses planos estão na administração central, ainda não são conhecidos, apenas o serão quando forem sujeitos a inquérito público. A intenção que tem sido manifestada é, que o que se vai fazer, seja de utilização predominantemente turística, e se assim for é muito positivo e portanto vai ser um motor de desenvolvimento. Quanto a aspectos negativos ainda não conhecemos nem os planos nem os projectos, apenas conhecemos as intenções, mas do que tem vindo a público parece-me positivo.

Fala quem sabe e a quem Sesimbra já muito deve. E em solicitude e amizade também a LAS é devedora, em boa escala, do nosso entrevistado de hoje.

Quem é Quem
O Arquitecto José Carlos Santos Trindade, de cativante simpatia e agradabilíssimo trato pessoal, é mais um caso de Sesimbrense por adopção. Está por aqui radicado desde 1983, tendo nascido em Lisboa (Belém), há 52 anos.
Constituiu belíssima “equipa” de trabalho coma a sua família nuclear (Esposa e Filha, também Arquitecta) e completa agora as sua “bodas de prata” profissionais em prol de Sesimbra (1981-2006), com o reconhecimento de apreço de toda a comunidade.
O talento e a competência do Arquitecto Trindade têm valori-zado uma boa série de obras levadas a cabo no nosso Concelho, neste bem preenchido quarto de século. Apenas alguns exemplos: Casa Paroquial na Corredoura, Piscina e Sala Desportiva do GDS, Cercizimbra (Lar Residencial), ATL- Convívio (Castelo), Nova Sede do Clube Naval de Sesimbra (Porto de Abrigo).
Além do mais, um óptimo entrevistado.

Susana Berjano