terça-feira

Máfia italiana ligada ao tráfico de droga em Portugal

"Jornal de Notícias", de 18 de Dezembro de 2008

Uma rede de tráfico chefiada por um empresário de automóveis de Leiria a que está ligado um militar da GNR foi desmantelada pela PJ. A rede tinha ligações directas à Camorra, a mafia napolitana, a primeira vez que tal acontece no nosso país.
A acção de combate ao narcotráfico foi baptizada de "Operação Escorpião" e está integrada num conjunto de acções de investigação por parte da Polícia Judiciária, iniciadas no final de Abril deste ano e só agora concluídas, com a detenção, ontem, do empresário e do militar da GNR, em serviço na Brigada Fiscal.
No total, a Direcção Central de Investigação do Tráfico de Estupefacientes (DCITE) deteve 18 pessoas, dos quais vários estrangeiros, entre eles um italiano, apreendeu 15 toneladas de haxixe, no Alentejo e Algarve,quatro embarcações, das quais duas de pesca e duas "voadoras", dois veículos pesados e seis ligeiros.
Ontem à tarde, no entanto, a PJ apreendeu ainda mais 11 viaturas de luxo que estavam na posse do empresário - e que seriam para negociar - e estava a investigar as contas e os bens de que é proprietário, tudo no sentido de verificar até que ponto vão as ligações do detido ao dinheiro resultante do tráfico de droga.
As investigações, no âmbito de um inquérito que decorre no Departamento Central de Investigação e e Acção Penal (DCIAP), em Lisboa, deram conta de que o empresário era o cabecilha da rede internacional em Portugal, ligada à Camorra - a organização mafiosa napolitana - dedicada ao tráfico de haxixe a partir de Marrocos.
Ao empresário caberia toda a organização da logística de apoio aos desembarques de haxixe assim como ao encaminhamento da droga para Espanha e daí para o resto da Europa, fornecendo à rede armazéns, carros ligeiros, camiões, barcos e homens. As primeiras ligações foram logo detectadas em Junho, com a descoberta de um armazém onde estava armazenado haxixe, mas foi em Novembro, com a detenção de um italiano, que foram descobertos os mais fortes indícios de ligações à Camorra.
Ao empresário português cabia conseguir espaços para armazenar a droga, como foi o caso de Olhão, mas também a apreensão em Sesimbra de oito toneladas de haxixe, que eram transportadas num camião, depois de terem sido desembarcadas no porto a partir de um barco pesqueiro registado em Peniche.
A droga foi apreendida na estrada pela GNR em apoio aos investigadores da Polícia Judiciária. Uma apreensão de droga em Sines, com o apoio das Marinha de Guerra, ainda durante o Verão também teria como destino o porto de Sesimbra e seria igualmente controlada pela mesma rede.
Quanto ao militar da GNR e em serviço da Brigada Fiscal, em Sesimbra, o seu papel era de controlar a segurança dos desembarques, ao mesmo tempo que ia dando informações sobre os movimentos da Brigada Fiscal, em particular no distrito de Setúbal, envolvidas no combate ao tráfico de droga (ver texto ao lado sobre a acção da Brigada no combate ao tráfico de droga).
Segundo destacou fonte da PJ ao JN, o "Comando da Brigada Fiscal deu uma excelente colaboração para a detenção do militar". Ao que parece, o militar terá sido detido ontem no posto onde estava colocado e a sua detenção foi formalmente executada por oficiais da GNR, que entregaram o arguido à PJ. A GNR abriu entretanto um processo disciplinar ao militar, que está suspenso de serviço. Os dois homens serão hoje presentes ao Tribunal Superior de Instrução Criminal.


Carlos Varela, com Nelson Morais

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