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Lembrar Sebastião da Gama

Jornal “O Setubalense”, 7 de Abril de 2008

O programa de comemorações do 84.º aniversário de Sebastião da Gama inclui diversas iniciativas. A data de nascimento do poeta, 10 de Abril, coincide com as comemorações do Dia Municipal da Arrábida.
A Câmara Municipal e a Associação Cultural Sebastião da Gama vão promover o programa comemorativo do 84.º aniversário do nascimento do poeta Sebastião da Gama que inclui passeios de reflexão, pela Arrábida, por locais por onde o homenageado passou.
Estes encontros, intitulados “Percursos de Sebastião da Gama”, com partida do Museu Sebastião da Gama, realizam-se nos dias 13, 20 e 27, das 10 às 13 horas, para o público em geral, e a 7, 8, 10, 15 e 17, das 14 às 16 horas, para escolas.
O dia do nascimento de Sebastião da Gama, 10 de Abril, é o ponto alto das comemorações. Um almoço-convívio, às 13 horas, no Hotel Clube de Azeitão, com amigos e alunos do poeta e pedagogo, integra um tributo a Joana Gama. Às 16 horas, o Salão Nobre dos Paços do Concelho recebe uma sessão solene de homenagem ao poeta da serra-mãe. O programa regressa a Azeitão, para um “Um Concerto de Aniversário de Sebastião da Gama e Dia Municipal da Arrábida”, com a participação da banda e do coro da Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense, às 21.30 horas, na sede desta associação.
Uma mostra de trabalhos, de vários artistas, alusivos a Sebastião da Gama, organizada pela Associação Ecos D’Art, está patente entre 12 e 26 de Abril, no Club Setubalense. A inauguração é as 16 horas.
“Conversas com Sebastião da Gama” é o mote de mais dois encontros. O primeiro, marcado para dia 19, às 18 horas, no Club Setubalense, incide sobre os alunos de Sebastião da Gama, enquanto o segundo, a 26, à mesma hora, no Museu Sebastião da Gama, em Azeitão, reflecte sobre a doutrina do homenageado enquanto pedagogo.
O programa comemorativo evoca o pioneiro na defesa da Arrábida, em particular quando, em 1947, ainda jovem, se insurgiu contra a devastação da Mata do Solitário.

Câmara de Sesimbra exige a integração do concelho na rede de urgência

Jornal “Público”, 24 de Março de 2008

A Câmara Municipal de Sesimbra (CMS) não se conforma com a decisão do Ministério da Saúde pelo facto de não ter sido contemplada na rede de urgência e emergência, apesar de "preencher todos os critérios requeridos pelo Ministério". A 18 de Março, a autarquia (CDU) aprovou uma deliberação contra o Ministério, demonstrando a sua "frontal e absoluta discordância" com o despacho publicado no Diário da República a 28 de Fevereiro deste ano, no qual foram definidos e classificados os pontos da rede de urgência e emergência.
O presidente da Câmara de Sesimbra, Augusto Pólvora, lamentou esta decisão. "É inaceitável que sejamos tratados desta maneira”, já que o concelho preenche todos os critérios requeridos pelo Ministério da Saúde para ser incluído na rede de urgência.
Os critérios determinam que o tempo de acessibilidade na rede de urgência seja inferior a 30 minutos mas "se um doente for transportado de Sesimbra para o Garcia de Orta demora mais de 30 minutos para este ou qualquer outro hospital das proximidades", explicou Augusto Pólvora.
Outro dos critérios está relacionado com o número de população residente e flutuante, uma vez que "Sesimbra conta com um fluxo turístico bastante grande, o que abrange mais de 200 mil dormidas por ano em hotéis e residências, sobretudo aos fins-de-semana e durante o mês de Agosto".
A preocupação da autarquia prende-se com o facto deste despacho não contemplar um Serviço de Urgência Básico (SUB) para a área do Município de Sesimbra. "O nosso concelho tem uma afluência superior a 150 doentes por dia, número que aumenta para 200 por dia durante os meses de verão. Este factor devia ser suficiente para a construção de um SUB". O Ministério da Saúde "ainda não deu resposta à proposta de SUB apresentada, nem tão pouco marcou uma reunião para discussão da proposta, apesar das inúmeras tentativas da Câmara Municipal nesse sentido", informou o presidente da autarquia.
Para mostrar a sua indignação face à ausência do concelho no despacho e à situação geral da saúde no concelho, a câmara solicitou uma audiência à ministra da Saúde de forma a clarificarem a situação.
Na proposta apresentada pelo presidente da autarquia e pelo vereador do pelouro da Saúde reconhecem a "necessidade de melhoramento nos serviços de urgência", em grande parte devido à "sobrelotação das urgências no hospital Garcia de Orta e à necessidade de um reforço de médicos no centro de saúde da Quinta do Conde". A autarquia condena o referido despacho por "não cumprir a lei de bases da saúde e não se adaptar às condições da realidade nacional, nem às suas necessidades".

PSP detém futebolista no relvado e leva-o equipado e de chuteiras

Jornal “Diário de Notícias”, 18 de Março de 2008

O capitão de equipa do Grupo Desportivo de Sesimbra foi detido em pleno relvado, após o jogo de domingo frente ao Comércio e Indústria, pela PSP de Setúbal, sendo encaminhado para a esquadra da Bela Vista ainda equipado e de chuteiras. Nuno Silva é acusado de "injúrias" às autoridades, após uma cena de pancadaria na bancada, onde um director do Sesimbra foi violentamente agredido na cabeça, com duas muletas.
Rezam as crónicas que o encontro, a contar para a 1ª Divisão Distrital, disputado no Campo da Bela Vista, em Setúbal, decorria com fair-play até que uma azeda troca de palavras entre adeptos dos dois clubes resultou numa violenta agressão ao dirigente do Sesimbra Eduardo Rigor, que após ser atingido pelas muletas caiu no chão com o rosto coberto de sangue, perdendo os sentidos. A rixa estendeu-se às quatro linhas, com dois jogadores a saltarem para as bancadas.

Nuno Silva e Ricardo Rigor, filho do agredido, tentaram o ajuste de contas, enquanto a PSP procurava acalmar os ânimos, mas foram as palavras usadas por Nuno Silva contra as autoridades que levaram os agentes a detê-lo. O árbitro não expulsou ninguém e reatou o jogo, que teve 25 minutos de desconto. Após o apito final, os polícias dirigiram-se ao jogador, dando-lhe voz de prisão e pedindo-lhe que os acompanhasse, no carro da PSP, à esquadra.
"Nem deixaram o homem tomar banho", lamentou ao DN o presidente do Sesimbra, Sebastião Patrício, que estava no banco da equipa, avançando que o clube vai processar criminalmente o agressor de Eduardo Rigor, que está identificado e cujas muletas foram apreendidas, lamentando ainda o dirigente sesimbrense que "a polícia nada tenha feito para proteger o nosso director. Se o Nuno foi preso por dizer umas coisas, todos nós devíamos ser, porque também desabafámos a nossa revolta contra os polícias."
Foi a PSP que arranjou um fato-de-treino a Nuno Silva para que se protegesse do frio, depois de dar entrada na 2ª Esquadra. O jogador foi constituído arguído, sendo notificado para comparecer ontem no Tribunal de Setúbal, mas a audiência foi adiada para dia 1 de Abril. O jogo terminou empatado a uma bola.

Escuteiros espanhóis criticam MP de Sesimbra

Jornal “Diário de Notícias”, 17 de Março de 2008

Responsável do grupo de escuteiros espanhol acusado de homicídio negligente de um jovem de 13 anos, por alegado desrespeito pelas regras de prudência no âmbito de uma caminhada na serra da Arrábida, criticou ontem a acusação deduzida pelo Ministério Público (MP) de Sesimbra por não ter tido em conta o depoimento dos 23 jovens que participaram na actividade em que veio a falecer Diego Amador. César Gil Lamata, principal arguido do processo, garantiu que o jovem tinha problemas de saúde anteriores nunca revelados pela família.
Enrique Amador, pai do jovem falecido, garantiu, por sua vez, ao DN, que Diego era uma criança saudável, e que ainda viveria se a Asociación Grupo Lujan 102 tivesse tido as precauções mínimas, frisando ser estranho que, após esta acusação, aquele agrupamento de escuteiros de Madrid - que em Agosto de 2005 veio a Portugal realizar uns raids pela península de Setúbal - continue activo. "Eu e a minha esposa confiávamos naquele grupo de que Diego fez parte durante cinco anos. Sentimo-nos traídos. Esperamos que os escuteiros, enquanto instituição, castiguem devidamente a Asociación Grupo Lujan 102 de Madrid", disse.
A verdade sobre os contornos que provocaram a morte de Diego Amador, a 4 de Agosto daquele ano, durante uma caminhada de oito quilómetros entre a praia da Foz e a praia da Ribeira do Cavalo, em Sesimbra, alegadamente por exaustão física associada à exposição ao calor, só se irá saber, seguramente, durante o julgamento.
César Gil Lamata lembra que a acusação foi deduzida a 14 de Fevereiro deste ano e que os 23 jovens colegas de Diego foram ouvidos no tribunal de Madrid, a pedido do MP de Sesimbra, no dia 12, ou seja, dois dias antes. "Não houve tempo para que o magistrado acedesse aos depoimentos", criticou. Além de que, acrescentou, nunca o MP ouviu o cidadão português, conhecedor do terreno e da região, contactado pela associação para ajudar a preparar a actividade. Segundo César Gil Lamata, de 47 anos, os jovens iam naquele dia realizar uma caminhada de sete quilómetros, entre as oito da manhã e a uma da tarde, ao ritmo de um quilómetro por hora.
"Não se pode dizer, pois, que foram submetidos a um esforço sobre--humano", atestou, assegurando que o grupo de 24 jovens era acompanhado por duas viaturas de apoio, com alimentos, além de que, na zona em que Diego veio a falecer, "havia casas à volta, que, em caso de necessidade, disponibilizariam água". "É mentira que tivessem encontrado crianças desidratadas", garantiu, lamentando a morte de Diego. "A acusação do MP parece mais uma novela do que a descrição dos factos."
Enrique não se conforma e garante que o seu filho nunca teve historial clínico negativo. "Antes de morrer, arrastou-se com dores de cabeça e de barriga. Que barbaridade! Queremos justiça. Confiamos no tribunal português, e sabemos que não nos vai faltar", reagiu ao DN.

Morreu Joel Serrão, renovador da historiografia portuguesa

“Jornal de Notícias”, 7 de Março de 2008

Figura incontornável da historiografia portuguesa, Joel Serrão faleceu anteontem, em Sesimbra, vitimado por uma doença. Tinha 88 anos, muitos dos quais dedicados à investigação e à escrita. Publicou dezenas de obras, como o "Dicionário de História de Portugal", cuja primeira edição data dos anos 60 e ainda hoje é fonte de consulta obrigatória. Mas também escreveu monografias de cariz económico e social, além de textos sobre poetas. Foi pioneiro no estudo da História do século XIX em Portugal.
À obra de Joel Serrão - por muitos lembrado também como uma pessoa simples e civicamente interveniente - se deve, a par da de contemporâneos seus, a primeira aproximação às correntes historiográficas europeias do pós-guerra, sobretudo à revista francesa "Annales", fundada por Marc Bloch e Lucien Febvre. Hoje, é unânime a opinião de que foi um dos investigadores que mais contribuíram para uma visão de conjunto da história moderna portuguesa.
Nascido no Funchal em 1919, Joel Serrão licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Foi professor do ensino secundário em várias cidades do país e também deu aulas em duas universidades da capital, tendo ainda sido membro do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian.
Na opinião da investigadora Maria Filomena Mónica, Serrão "conseguiu olhar a História sem óculos ideológicos". "Dos intelectuais que viveram o antigo regime, Joel Serrão é o historiador que mais prezo, nomeadamente por ter sido capaz de fazer o 'Dicionário de História de Portugal', editado pela Figueirinhas, que é um trabalho imenso", disse.
Maria Filomena Mónica classificou ainda como "surpreendente" a ligação de Serrão à poesia. Na verdade, o ensaísta também estudou as figuras que se destacaram na evolução das ideias e da cultura, como Cesário Verde, Fernando Pessoa, Antero de Quental e António Sérgio, além de ter escrito obras de introdução às disciplinas filosóficas.
O historiador madeirense Nelson Veríssimo considera que Joel Serrão abriu muitas linhas de investigação em vários domínios. "A sua obra é notável, tendo introduzido em Portugal uma nova forma de pensar a História, a Sociologia e a História da Cultura e das Mentalidades", acrescentou.
O funeral sai às 10 horas de hoje da Igreja de Santo Condestável, em Lisboa, para o cemitério dos Olivais.

Isabel Peixoto

Italianos querem Cabo Espichel

Jornal “Diário de Notícias”, 3 de Março de 2008

Desde 1995, altura em que passou para as mãos do Estado português, que se desenham ideias sobre a melhor utilização a dar às albergarias do Cabo Espichel. Até agora, nada foi feito à excepção da recuperação, em 2000, da igreja de Nossa Senhora do Cabo. Mas, o futuro pode ser promissor. Para já, tudo o que existe são propostas privadas de um grupo francês e outro italiano, que segundo a autarquia de Sesimbra terá ligações ao Vaticano.
Os italianos serão os únicos a manter o seu interesse. O grupo quer transformar as albergarias num hotel de charme. Mas, para isso, necessitam da autorização da Igreja e do Estado (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico). Já os franceses apresentaram uma proposta para um hotel direccionado à terceira idade, mas "nunca mais nos contactaram", assegura Augusto Pólvora, presidente da Câmara de Sesimbra.
Por isso, o autarca já marcou uma reunião, para meados deste mês, com os proprietários do Cabo. O objectivo é tentar inverter a situação que se criou em 1995, quando a confraria doou ao Estado a ala Norte, mas com a condição de restaurar todo o conjunto. O Estado não cumpriu, mas também não pode voltar a entregar a propriedade à igreja por erro de redacção do documento que não previa a reconversão, caso uma das partes falhasse. "Estamos num impasse que tem de ser resolvido e hoje o Estado pode resolver a questão com facilidade", garantiu ao DN o autarca.
Augusto Pólvora frisa que a autarquia não pode comprar o Cabo, mas pode servir de intermediária: "Temos um grupo italiano bastante interessado, mas antes de avançarmos com possíveis projectos temos de ter tudo bem resolvido", frisa. Até porque "há pequenas parcelas de terreno que pertencem a privados".
Entretanto, a autarquia vai avançar com uma recuperação no santuário do Cabo Espichel orçada em cerca de 150 mil euros. "Vamos tentar melhorar as condições de atractividade deste espaço", explicou Augusto Pólvora. A grande novidade é a instalação de uma rede eléctrica, visto que actualmente apenas a igreja tem electricidade aos dias de missa (domingo às 16.00), alimentada por um velhinho gerador. Será construído um parque de estacionamento com 150 lugares, os vãos da ala Norte serão finalmente entaipados e as albergarias pintadas. A câmara ainda não decidiu se vai proibir a circulação automóvel no cruzeiro: "As pessoas reagem muito mal à mudança. Mas o objectivo é libertar este espaço para as pessoas andarem à vontade", avançou.
A Casa da Água não vai ser requalificada mas "vai ser protegida. Vamos colocar uns portões para impedir o acesso e tentar dar-lhe um ar lavado", frisa o autarca. Tudo porque, "o aspecto abandonado incentiva ao vandalismo", lamenta.

Ameaça de bomba na escola de Azeitão

Jornal “O Setubalense”, 27 de Fevereiro de 2008

Uma chamada telefónica feita para a Escola Básica 2,3 de Azeitão dava conta de que daí a alguns minutos iria explodir uma bomba, o que acabou por provocar a evacuação daquele recinto educativo.
Pouco passava das 13.45 horas de anteontem quando o telefonista da Escola 2/3 de Azeitão, situada na rua António Maria Oliveira Parreira, em Vila Nogueira de Azeitão, recebeu uma chamada telefónica através da qual uma voz dava conta de que cerca de 15 minutos depois a escola “iria pelos ares” devido a explosão de uma bomba que se encontrava no interior do recinto escolar.
Clara Félix, presidente do Agrupamento Vertical de Escolas de Azeitão foi de imediato contactada e, tal como referiu a «O Setubalense», ficou “alguns momentos indecisa” sobre qual seria a melhor atitude a tomar, uma vez que deveria tratar-se de uma brincadeira de muito mau gosto. No entanto, “e como temos cerca de 800 crianças na escola, optei por não arriscar e contactei de imediato as autoridades” que, neste caso, “foram muito eficientes” e chegaram rapidamente ao local.
Com efeito, a partir do alerta dado pela escola, para o local deslocou-se a GNR, os Bombeiros Sapadores de Setúbal e uma ambulância do INEM, tendo a escola começado a ser de imediato evacuada. Também nesta ocasião, “tudo correu muito bem, até porque”, como nos explicou Clara Félix, “as crianças têm exercícios desta natureza ao longo do ano lectivo e pensaram tratar-se de mais um”, o que só começou a levantar algumas dúvidas “na media em que iam saindo e vendo o aparato de veículos de socorro que se encontravam no local”.
A presidente do Agrupamento diz não ter qualquer base a que possa associar esta brincadeira de mau gosto, “até porque se tratava de um dia completamente normal de aulas, sem qualquer exame agendado” ou até mesmo estar a decorrer “qualquer processo disciplinar”.
A GNR de Setúbal que esteve no local, adiantou a «O Setubalense», através do responsável pelo Destacamento de Setúbal, Major Tavares Belo, que fez “a deslocação dos meios necessários para o local”, confirmou a “realização de buscas de segurança” mas que “não havia qualquer fundamento” para a ameaça, “não tendo sido encontrado qualquer objecto explosivo”.

Ana Maria Santos

Sexagenária encontrada morta debaixo de carro semi-submerso

Jornal “O Setubalense”, 20 de Fevereiro de 2008

Suzete Valente, de 67 anos de idade, enfermeira reformada, foi anteontem descoberta morta debaixo de um carro semi-submerso pela enxurrada, em Vila Nogueira de Azeitão, quando regressava a casa com o medicamento para o seu cão.
Suzete Valente, de 67 anos de idade, natural do Barreiro, viúva e enfermeira reformada do Hospital Dona Estefânia, morava há cerca de três anos na Rua Helena da Conceição dos Santos e Silva, no ‘coração’ de Vila Nogueira de Azeitão. Terá sido atraiçoada pela enxurrada quando subia a rua, de regresso a casa, ficando presa por debaixo de um automóvel estacionado.
O corpo da sexagenária, já cadáver, foi encontrado por debaixo de um automóvel, na rua de acesso a sua residência, no meio de uma enxurrada naquela inclinada artéria. Só a autópsia, a ter lugar no cemitério do Hospital de S. Bernardo, deverá agora esclarecer a causa da morte.
A médica veterinária da “Vet Arrábida”, a última pessoa que falou com Suzete Valente falou, e as vizinhas da sexagenária, não colocam outra hipótese: a senhora “arriscou” subir a rua, de regresso a casa, e foi atraiçoada pela forte bátega de água, acabando entalada na parte debaixo de um carro estacionado.
Ângela Martins, directora técnica da clínica veterinária ‘VET Arrábida’, lamentou a morte desta “nossa cliente, pessoa simpática e activa, com grande estima pela sua companhia, o cão ‘Lamb’, que é cardíaco. A senhora esteve aqui depois das 11 horas e levou comprimidos para o seu animal. No regresso a casa, aconteceu a tragédia”, lamentou.
À reportagem de «O Setubalense», uma vizinha da malograda e antiga enfermeira do Hospital Dona Estefânia, confirmou que a senhora, de bom trato, “residia aqui há três anos”. Maria Luísa Alface garante ter falado com a malograda vizinha do lado “meia hora antes dela descer a rua”, mas “nunca pensei ser pela última vez…”
A inusitada enxurrada de água da manhã de anteontem, terá sido o factor para este incidente mortal. Maria Alface não coloca outra hipótese, e até garante que a última vez que viu uma descarga de água assim “foi há 20 anos”. Com um pormenor: Esta prolongada rua (do antigo posto da GNR), com ligação ao centro de Vila Nogueira, “canaliza muita água proveniente do Alto da Madalena”. Em sua opinião, “a senhora não conhecia bem a força traiçoeira que a água leva nesta zona. Foi apanhada pela enxurrada, não resistiu e acabou entalada debaixo do carro”, considera Maria Alface.
De resto, ainda na manhã de ontem, aquando da visita da nossa reportagem ao local, as laterais do passeio completamente escavadas pela força das águas, dava a entender a força com que as águas pluviais ali correram no dia anterior.

Teodoro João

“O segredo do sucesso passa pelo espírito de sacrifício”

Jornal “O Setubalense”, 18 de Fevereiro de 2008

A fábrica de tortas Azeitonense produz, em média, dez mil tortas por dia, emprega trinta funcionários e já gerou mais de dois milhões de euros. Actualmente, as tortas de Azeitão marcam presença em praticamente todas as superfícies comerciais, grandes e pequenas. Mas há treze anos, a realidade era outra, pois quem quisesse provar este afamado doce teria que se deslocar ao distrito de Setúbal.
O proprietário da fábrica, António Martins, pasteleiro e empresário, pegou nas tortas de Azeitão, um produto regional, que estava subvalorizado e deu-lhe uma marca. Inicialmente, começou a produzir queijadas em casa e a vender de porta a porta. Mas cedo se apercebeu da potencialidade da torta que, segundo o pasteleiro, “tinha características ideias para poder ser trabalhada não só a nível local mas também exterior, uma vez que, tem como recheio o doce de ovo que, ao contrário do creme, aguenta-se por mais tempo”. Assim iniciou, há treze anos, o fabrico deste doce, a nível nacional.
O negócio foi-se adaptando às grandes superfícies, “de forma lenta e sustentada”, refere. Há dez anos começou a fabricar para o hipermercado Jumbo, assumindo a loja de Setúbal e a de Almada. Logo no primeiro ano obteve “um sucesso extraordinário de vendas”, conta o empresário. Após esse período quiseram que vende-se para outras lojas, no entanto, António Martins indicou que não tinha condições para tal. “Eram necessários equipamentos como carros frigoríficos, que não eram fáceis de adquirir”, revela. Algo que foi conseguindo pouco a pouco.
A fábrica foi sofrendo reformas, aumentando à medida que o negócio crescia. Apesar do doce mais conhecido ser a torta de Azeitão, a fábrica Azeitonense também produz outros bolos. As queijadas de Azeitão, queijinhos de Azeitão, esses de Azeitão, cavacas e até bolos integrais são produzidos e vendidos ao público no número 438 da rua S. Gonçalo, em Brejos de Azeitão. Segundo o proprietário todos os bolos são confeccionados sempre “ao gosto do cliente”, com ingredientes o mais naturais possível e “não entrando em concorrências”.
Prova da qualidade de produção desta fábrica é o prémio “Sabor do ano 2008”, conquistado com as tortas e os esses de Azeitão, galardão muito reconhecido em França como símbolo de qualidade no sector alimentar. Esta distinção resultou de várias provas cegas, desprovidas de marca, realizada por vários consumidores anónimos.
Os dividendos que o empresário retira da fábrica servem, de acordo com o mesmo, para promover a marca, porque, “para singrar nas grandes superfícies, onde há muita competitividade, é preciso apostar na publicidade”, explica. Também usa esses lucros para aumentar os salários dos seus trabalhadores, porque “é importante que estejam motivados e não é com salários baixos que se vai para a frente”. Mas também é exigente e escolhe a dedo cada trabalhador, dando sempre preferência àqueles com formação superior. O resto do dinheiro serve para investir, se bem que, grande parte do dinheiro, diz, vai também para o Estado, através dos impostos que o empresário considera “muito altos”.
Para António Martins o segredo do seu sucesso passa, além de ter uma boa equipa de trabalho, pelo espírito de sacrifício que está patente, por exemplo, na ausência de férias. Confessa que “quem tem um negócio deixa de usufruir de outras coisas, há que estar sempre atento e não estagnar, pensar sempre dois ou três anos à frente, mas sempre com calma e segurança”.
No futuro pretende abrir uma nova fábrica, na Estrada Nacional 10, à saída da estação de Coina. O espaço terá dois mil metros quadrados de área coberta, com zona de estacionamento.
António Martins pretende reservar um espaço para uma loja onde irá comercializar vários produtos da região da Arrábida, como mel, queijo, moscatel, rebuçados e até artesanato. Neste campo ambiciona ainda criar um atelier onde haverá alguém a pintar azulejos e onde as pessoas possam encomendar painéis.
Este investimento de 2,1 milhões de euros traduz-se também numa aposta na exportação. O pasteleiro criou outros tamanhos de tortas (mini-tortas e miniaturas) a pensar no mercado internacional e noutro tipo de consumidores e eventos como casamentos, cocktails, etc. “Os ovos e o açúcar agradam a todas as bocas”, garante, daí a certeza do sucesso além fronteiras.

Vera Gomes

Cabo Espichel de cara lavada ainda este ano

“Jornal de Notícias”, 10 de Fevereiro de 2008

Abandonado há 10 anos, o santuário do Cabo Espichel, em Sesimbra, vai ser requalificado ainda este ano. As obras, orçadas em 100 mil euros, contemplam a construção de um parque de estacionamento com 150 lugares, a reabilitação da zona da Mãe de Água e o embelezamento exterior de toda a área envolvente ao santuário. "O que vamos fazer no imediato é tentar melhorar as condições de atractividade do espaço", avançou, ao JN, o presidente da Câmara de Sesimbra, Augusto Pólvora, após a sociedade Costlântica ter doado ao município os quatro hectares de terreno envolvente ao santuário.
Uma das intervenções prioritárias é a instalação de rede eléctrica, uma vez que actualmente apenas a igreja tem iluminação, alimentada por um gerador. "Estamos também em vias de conseguir um acordo com a Simarsul para o saneamento básico", adianta o autarca, referindo que, no próximo Verão, o espaço já irá ser palco de iniciativas culturais.
O santuário do Cabo Espichel entrou em declínio há 10 anos, quando a Confraria de Nossa Senhora do Cabo cedeu ao Estado a ala Norte para que o INATUR ali construísse uma pousada. Na altura, as casas estavam ocupadas por pescadores de Sesimbra, que pernoitavam no Cabo pelo menos durante a festa religiosa de Setembro. Os ocupantes foram despejados e todas as entradas para as casas foram vedadas com tijolo.
Entretanto, o INATUR já não quer construir uma pousada no local e autarquia está agora a desenvolver esforços para que a zona pertencente ao Estado possa ser dinamizada. "Estamos a tentar encontrar um outro promotor para instalar um programa misto de alojamento e comércio", adianta Augusto Pólvora. Quanto à ala Sul, que irá continuar na posse da igreja, o município espera conseguir que parte do piso térreo seja cedido para a instalação de serviços, que possam suportar os custos de recuperação do piso superior, que incluirá uma zona de recolhimento e alojamento.
O abandono do santuário tem contribuído para a sua degradação e quem até ali se desloca mostra-se satisfeito por a requalificação avançar finalmente. "Isto é um monumento e é pena estar a ser destruído", frisa José Costa, da Charneca de Caparica, considerando que a edificação de uma pousada seria o projecto ideal. Luísa Costa tem a mesma opinião que o marido e lamenta "estar tudo fechado e abandonado". "O que fizerem aqui fica melhor do que está", salienta por outro lado Francisco Marques, do Zambujal, considerando que é necessário conservar o espaço.
Sandra Brazinha

Traficantes de droga galegos guardavam haxixe em Sesimbra

“Jornal de Notícias”, 10 de Fevereiro de 2008

Cerca de seis toneladas de haxixe foram apreendidas em Portugal, numa operação policial que juntou a Polícia Judiciária (PJ) e a Guardia Civil de Espanha e que levou à detenção de um total de 17 indivíduos. Um dos dois alegados cabecilhas da rede é um antigo e conhecido dirigente sindical da zona de Arosa.
A droga tinha como destino os cartéis galegos e a investigação tinha começado há um ano, trazendo inclusive ao nosso país elementos de investigação da Guardia Civil de Pontevedra, que acompanharam a Polícia Judiciária nas investigações.
Parte da droga foi apreendida no IP1, na zona de Leiria, dentro de um camião que tinha sido alugado em Espanha para fazer o transporte do haxixe, segundo adiantou o coordenador de investigação criminal Dias Santos, da Direcção Central de Investigação do Tráfico de Estupefacientes (DCITE) da PJ. "À frente da viatura onde seguia a droga, neste caso pólen de haxixe, seguia um automóvel, que funcionava como batedor", apontou Dias Santos. Os dois condutores foram detidos, e acabaram por ficar em prisão preventiva depois de terem sido presentes ontem à tarde, perante um juiz no tribunal de Almada.
A maior parte do haxixe estava, no entanto, escondido em casas abandonadas, na região de Sesimbra, mais concretamente em Azóia, junto à estrada que liga ao Cabo Espichel. Trata-se de edifícios cuja construção foi embargada há vários anos, existindo apenas as paredes e os telhados. Era numa dessas casas que a droga estava escondida, a pouco mais de dois quilómetros do mar, mas as autoridades ainda não sabem se o haxixe foi desembarcado ou não na zona.
De acordo com o coronel Rafael Daza Pichardo, comandante da Guardia Civil de Pontevedra, já tinha havido detenções em Espanha em Agosto e em Dezembro, incidindo sobre a mesma rede, que mais recentemente levaram à detenção dos líderes, que segundo soube o JN junto de fonte policial são Juan Salvador Rivadomar Padin e Guillermo Fernandez Sanchez.
Salvador Ribadomar era um conhecido sindicalista ligado às profissões do mar, que deixou o sindicalismo para se tornar empresário. A sua ligação ao tráfico de drogas era insuspeita e a detecção surpreendeu toda a gente. Ambos os alegados líderes do grupo eram da zona de Arosa, nas rias galegas, um a zona historicamente ligada ao tráfico de drogas. Mais detenções relacionadas com o caso poderão ocorrer.
Noutra acção que precedeu esta operação, há cerca de dois meses, foi apreendida uma lancha voadora, com cerca de duas toneladas de haxixe, em Alicante, no Mediterrâneo, que operava para a mesma rede galega. A operação recebeu a designação de "Ipanema".
A aparente alteração de rota do tráfico, segundo o coronel Rafael Daza Pichardo, poderá estar associada à eficácia do sistema de vigilância electrónica que está a operar na costa sul de Espanha e que está em fase de concurso para instalação também em Portugal, tal como o JN já noticiou.
Além das quase seis toneladas de haxixe apreendidas pela PJ, durante a operação a Guardia Civil já tinha apreendido em Espanha 2,3 toneladas do mesmo estupefaciente. Feitas as contas, fora m apreendidas um total de mais de 8,3 toneladas de droga, que eram geridas pela mesma rede, agora desmantelada, com a operação em Portugal.
Com os dois detidos foram apreendidos vários telemóveis com cartões de rede nacional. À partida tinham sido comprados especificamente para fazer a monitorização do transporte de droga, no percurso entre Sesimbra e a Galiza.
António Soares
Carlos Varela