"Portugal Diário", 5 de Janeiro de 2005
O candidato a Presidente da República Francisco Louçã desafiou hoje o primeiro-ministro, José Sócrates, a resolver a situação das pedreiras na Serra da Arrábida, Sesimbra.
O candidato apoiado pelo Bloco de Esquerda esteve hoje na serra da Arrábida, Sesimbra, junto de uma pedreira que disse ser ilegal e lembrou que José Sócrates, quando foi secretário de Estado do Ambiente, admitiu resolver situações idênticas.
"Disse que podia expropriar pedreiras ilegais, aqui estão elas", disse Francisco Louçã apontando para várias pedreiras a funcionar, junto à vila de Sesimbra.
O conjunto de pedreiras, alertou, são ilegais porque ficam a cerca de 200 metros do mar e junto de uma zona de protecção total, acrescentando que existem mais 11 pedreiras idênticas a "bordejar" todo o parque natural da Arrábida.
Questionado sobre a responsabilidade do chefe do Governo, Louçã respondeu: "Ou há irresponsabilidade ou desatenção".
O candidato criticou a "esperteza saloia de um país retalhado por negócios espantosos, sujeito a "interesses económicos rasteiros".
Numa manhã de pré-campanha longe de eleitores, Francisco Louçã convidou os jornalistas a percorrer um carreiro em plena serra até ao local de onde queria mostrar a pedreira, que prejudica, disse, uma gruta recentemente descoberta perto do local e que tem formações únicas.
O alerta foi corroborado por Francisco Rasteiro, do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul e anfitrião do "passeio".
E numa manhã dedicada ao ambiente o candidato não deixou de frisar que esta é uma questão fundamental nem de que é matéria sobre a qual um Presidente da República não se pode alhear, sob pena de "não se respeitar a si próprio e ao país".
"A defesa de espaços como estes é uma questão fundamental", afirmou, acrescentando que também em questões ambientais o preocupam a poluição de rios por suiniculturas, a construção em espaços naturais, e o facto de Portugal não cumprir o protocolo de Quioto em termos de emissões de gases poluentes.
Na pedreira em questão - porque "a lei não é cumprida nenhum dia" -, um Presidente tem de actuar, "pedir contas ao Governo", porque "não pode permitir que a lei seja violada".
Hoje no distrito de Setúbal, o candidato visitou a doca de Sesimbra, conversando com pescadores de peixe- espada preto e ouvindo queixas sobre concorrência desleal e "falta de educação" de alguns profissionais.
Aqui Francisco Louçã afirmou-se preocupado com a falta de vigilância em relação à pesca ilegal e a "falta de respeito" pela sustentabilidade de recursos a longo prazo.
Apesar de dizer que o preocupam questões ligadas a esta faina referiu também que não estava ali para fazer promessas.
Sobre a campanha, frisou que está a disputar "cada voto de Cavaco Silva" e que um mau resultado no dia 22 seria a vitória do "candidato da direita".
Recusando-se a especificar o que seria, em termos pessoais, uma derrota, Francisco Louçã também negou que esteja a "colocar a fasquia" demasiado alta quando diz que quer disputar uma segunda volta nas eleições com Cavaco Silva.
"Há muitas pessoas indecisas. Cada abstenção é um voto em Cavaco Silva", disse.
O candidato deixou ainda outra crítica ao antigo primeiro-ministro: "Cavaco Silva acha que já ganhou em todo o lugar pelo simples facto de pôr um pé nesse lugar, é preciso muita arrogância para pensar que qualquer candidato já ganhou, eu digo, Cavaco Silva não ganhou".
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