terça-feira

Quando a concha pode servir de berço!
A. Sílvio Couto
in "Agência Ecclesia", 20 de Dezembro de 2005

A dinâmica do Natal de Jesus poderá e deverá ser vivida – em cada lugar, em cada época e em cada tempo – numa interpretação dos sinais em que nos inserimos. Assim parece não ser desadequado tipificar – para quem a conheça! – a configuração da vila de Sesimbra (sobretudo na geografia de Santiago) com uma concha. Esta enquanto sinal marítimo pode revestir uma multiplicidade de leituras, tanto materiais como alegóricas e ainda com perspectivas simbólicas.Enquanto revestimento do corpo dalguns moluscos serve-lhes de defesa e de habitat, tornando-se quando lhes é retirada de possibilidade decorativa.
Na linguagem alegórica ouvimos, por vezes, falar de ‘meter-se na sua concha’, significando não falar, fechar-se aos outros ou mesmo não fazer nada; por seu turno, ‘sair da concha’ poderá significar falar quem antes era tímido ou desconfiado.
Entretanto, na composição dalgumas palavras, podemos encontrar essoutras derivadas de ‘concha’, tais como: aconhegar-(se), enconchar-(se)... sobretudo enquanto verbos no reflexo.Desta forma poderemos propor como símbolo para este Natal a ‘concha’, no contexto desta terra/mar onde nos encontramos e como que podemos interpretá-la enquanto:
* desafio à ternura, tão nostálgica nesta época natalícia, mas obnubilada no resto dos outros dias do ano,
* promoção da vida como se este símbolo se pudesse entender comparável a um pequeno berço de criança recém-nascida ou a nascer,
* abertura à compaixão por contraste com alguma tendência consumista, promovida, agressiva e agressora,
* incentivo à simplicidade, provocando-nos nalgumas despesas desnecessárias... embora mais ou menos justificáveis.
Desta forma poderemos ir recuperando – neste contexto tão próprio, específico e subtil – a força das tradições típicas de Sesimbra, onde a dimensão cristã se nota presente mesmo que sob o pó e as cinzas.

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