sábado

Evocar rota histórica
“Correio da Manhã”, 16 de Dezembro de 2005

No próximo domingo, a barca ‘Nossa Senhora da Aparecida’ inicia uma viagem rumo ao Brasil. Com quatro tripulantes, esta tradicional embarcação de Sesimbra vai seguir a rota que Pedro Álvares Cabral realizou há 505 anos.
A bordo, tudo é feito para que a barca fique pronta para tão importante viagem, preparativos estes que foram ontem presenciados pelo CM.Para esta missão, a embarcação foi totalmente restaurada e adaptada a fim de responder às exigências e necessidades dos tempos modernos, uma tarefa que constituiu um desafio para o ateliê de arquitectura de interiores ‘e_dinteriores’.Optimizar um espaço exíguo, concedendo-lhe conforto e funcionalidade mas mantendo as características originais não foi tarefa fácil, como reconheceu ao CM Joana Beirão, responsável pelo ateliê.“A nossa preocupação maior foi criar um ambiente que fosse minimamente confortável, mas seguindo a traça original”, referiu a arquitecta, acrescentando: “Tendo em conta a especificidade da embarcação, esta preocupação reflectiu-se na escolha do material”.Aproveitando os espaços existentes e as medidas disponíveis da barca, o ateliê optou por uma decoração moderna, integrada no estilo tradicional, e concedeu funcionalidade à área de lazer, composta por um quarto, casa de banho e cozinha.A arrumação teve em atenção a segurança dos objectos, a fim de evitar a queda destes com a ondulação. Na cozinha, um micro-ondas ocupa um lugar de destaque, enquanto que a casa de banho possui um pequeno estendal amovível, prático para os dias de chuva em alto mar.A barca vai seguir a rota de Pedro Álvares Cabral, mas isso não significa que a tripulação tenha de abdicar da tecnologia moderna. Assim, a bordo e em lugar próprio e acessível, seguem também equipamentos informático, fotográfico e de segurança.

“EMBAIXADA ITINERANTE”
A viagem da barca ‘Nossa Senhora da Aparecida’ visa “homenagear os antigos navegadores e toda a gente do mar e as artes a eles ligadas”, disse Ana Souza e Holstein, mulher do proprietário e um dos membros da tripulação, Alexandre Souza e Holstein.Com paragens em Tenerife (Canárias), São Vicente (Cabo Verde) e Porto Seguro (Brasil), a tripulação – composta por homens com larga experiência marítima – pretende igualmente “fazer uma ligação histórica, cultural e religiosa” com os países de língua portuguesa, funcionando como uma “embaixada itinerante”.Nota curiosa e mais um ponto de união entre Portugal e o Brasil: a barca chama-se ‘Nossa Senhora da Aparecida’ em honra da Virgem e da devoção mariana a Nossa Senhora da Conceição. A mesma padroeira dos dois países: a de Vila Viçosa, em Portugal, e a da Aparecida, no Brasil.

HISTÓRIA DE UMA BARCA COM TRADIÇÃO
A barca ‘Nossa Senhora da Aparecida’ zarpa da marina de Sesimbra no domingo, quando for meio-dia. A bordo seguem quatro homens: Alexandre Souza e Holstein, patrão da costa e piloto aeronáutico (40 anos); Ricardo Ribeiro Couto, patrão de vela e motor e apanhador de mariscos (39); João Bustorff Burnay, patrão de alto mar e a trabalhar na produção de filmes (46); e Nuno Pinheiro de Melo, operador de câmara (38). Adquirida há três anos por Souza e Holstein num estado deteriorado, a embarcação foi construída em 1961 no antigo estaleiro de Sesimbra de Joaquim Silvestre Farinha. Durante os dois últimos anos, a barca foi alvo de restauro, missão dirigida pelo mestre Acácio Vidal Farinha.Arquétipo das antigas caravelas de pesca dos séculos XIII e XIV, esta embarcação era mais conhecida pelos nomes ‘barca de Sesimbra’ ou ‘barca do alto (mar)’. Mais pequena do que uma caravela de pesca, desconhece-se se, no passado, chegou a ir ao Brasil. A presente viagem, que se prevê termine a 4 de Fevereiro em Porto Seguro, poderá ser acompanhada através do ‘site’ www.portugalrumoaobrasil.com

TUDO PENSADO AO PORMENORTECNOLOGIA
Apesar de a viagem seguir a rota original de Pedro Álvares Cabral, a tripulação conta com equipamento sofisticado. No entanto, durante a travessia do Atlântico, apenas serão utilizadas as velas da embarcação.

CONFORTO
Respeitando o estilo tradicional, o conforto e a funcionalidade integram-se e respondem às necessidades e exigências actuais da tripulação para os mais de dois meses de viagem. O espaço é exíguo mas não falta nada.

Sem comentários:

Enviar um comentário