domingo

Equipamentos de frio são sucesso na pesca

Jornal "Diário de Notícias", de 4 de Julho de 2008

Nem tudo é um mar de problemas no sector das pescas. Pelo menos na doca de Sesimbra "mora" um exemplo de sucesso, alicerçado numa ideia posta em prática pelos armadores em 1986. Criaram uma associação, foram conquistando mercado e na última década deram o salto decisivo com um investimento de cinco milhões de euros em câmaras congeladoras e de refrigeração.
O retorno não se fez esperar. Hoje, a Artesanal Pesca factura um milhão de euros por mês e emprega 40 pessoas. Mas há espaço para crescer.
O director, Manuel Alves, não é muito dado a auto-elogios, justificando ser as pescas uma actividade de "alto risco", que a qualquer momento mergulha numa crise inesperada. Mas congratula-se com os resultados obtidos nesta união de 20 armadores, que hoje ocupa uma área de trabalho de 1800 metros quadrados, onde os equipamentos de congelação se perfilam como sendo uma mais-valia. A capacidade de armazenamento atinge as 400 toneladas.
Trata-se de uma forma de responder à velha questão da comercialização. "Quando um pescador apanha muito peixe e julga que está rico, acaba por chegar à lota para o vender e vê que o preço é baixo. Estes equipamentos são a garantia de que as boas capturas não fazem cair o preço do peixe, porque ele pode ficar aqui armazenado e ser vendido mais tarde", explica Manuel Alves.
Actualmente, a empresa enquadra 16 barcos, com contratos directos com armadores para receber toda a sua produção, ficando responsável pela distribuição do pescado, com valores compensatórios em relação às capturas.
Nas instalações da Artesanal Pesca, os funcionários não têm mãos a medir para transformar e processar o peixe, aumentando a sua cadeia de valor através da inovação.
Mas foi apenas a 17 de Setembro de 2007 que a associação logrou conquistar uma velha reivindicação. A partir desse dia, passou a ser responsável pela venda da totalidade do peixe capturado pelos barcos seus associados. "Foi isso que nos permitiu valorizar o pescado e garantir o tal preço fixo", explicou Manuel Alves, sustentando que a partir daí se passou a combater com maior eficácia a desvalorização do pescado sujeito em leilão.
"É verdade que já tivemos crises, mas se não tivéssemos esta organização não teríamos resistido", diz, revelando que esta parceria não surgiu por acaso. Os responsáveis realizaram visitas a Espanha e França, para aprenderem com os colegas, mas também fizeram questão de marcar presença num encontro com armadores da Noruega, Dinamarca e Islândia. Uma troca de experiências que alertaram para a relevância de possuírem bons equipamentos, mas onde também aprenderam a dar instruções aos barcos para que façam capturas suficientes para o mercado "sem deixar degradar os recursos" .
Além de vender localmente a preços fixos, competindo com o leilão da lota, a Artesanal Pesca abastece todo o País, através das grandes superfícies, de peixe-espada preto (a principal fonte de receita), lixas, carochos e cação, com 10% da produção exportada para Espanha e França.
Um recente negócio de venda de peixe congelado na Austrália é considerado como um "passo importante" para o eventual aumento de vendas ao exterior. "O nosso peixe é mais saboroso e pode conquistar muitos adeptos lá fora", admite.


Roberto Dores

Sem comentários:

Enviar um comentário