Revista “Visão”, de 26 de Julho de 2008
Mário Soares defendeu na sexta-feira, em Sesimbra, que a vitória do candidato democrata, Barak Obama, nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, pode representar uma viragem nas políticas neoliberais que têm sido seguidas nos países ocidentais nos últimos anos.
"O que se passou ontem (quinta-feira) em Berlim é uma coisa fabulosa. Cerca de 200 mil pessoas foram ouvir um candidato à presidência dos Estados Unidos porque sentem que é ali que está a esperança", disse o antigo Presidente da República.
Para Mário Soares a vitória de Barak Obama também é fundamental para a União Europeia, que, na opinião do antigo dirigente socialista, tem vindo a privilegiar as questões económicas em detrimento de um projecto político.
"Sou a favor de um projecto político europeu, não de um projecto económico", disse Soares, muito crítico em relação a alguns líderes europeus, como Gordon Brown (Inglaterra), Silvio Berlusconi (Itália), mas também de Nicolas Sarkozy (França), que acusou de não terem projecto político.
Mário Soares falava a cerca de 200 pessoas no Clube de Sesimbra durante o debate sobre "A Importância da Política", promovido pelo Observa -- um grupo de cidadãos sesimbrenses de diversas áreas políticas.
Numa abordagem directa ao tema proposto para o debate, em também participaram o renovador comunista Carlos Brito e o deputado do Bloco de Esquerda Fernando Rosas, Soares disse que "a política é da maior importância desde que tenhamos convicções".
"Não podemos é pensar que a política serve para ganhar a vida, fazer negócio ou lobby", acrescentou.
Para Fernando Rosas, deputado do Bloco de Esquerda eleito por Setúbal, a política está na ordem do dia em toda a Europa, onde ocorre "um ataque civilizacionalmente regressivo" aos direitos adquiridos pelos trabalhadores.
"A desregulamentação do trabalho, as privatizações da água, da energia", bem como o "agravamento drástico das desigualdades entre países e dentro de cada país", foram algumas das críticas de Fernando Rosas ao neoliberalismo dos países ocidentais nos últimos anos.
O renovador comunista Carlos Brito preferiu fazer uma outra abordagem do tema proposto para o debate, optando por enunciar algumas das razões que têm contribuído para um "afastamento cada vez maior dos portugueses da actividade política".
A inflexão para políticas de direita, que não correspondem aos anseios da população, as falsas promessas dos políticos e o funcionamento dos partidos, que considerou excessivamente condicionado pelos aparelhos partidários, foram algumas das justificações apresentadas pelo renovador comunista.
Carlos Brito acabou também por surpreender ao afirmar que defendeu o apoio do PCP à continuidade do então primeiro-ministro António Guterres, quando este pediu a demissão depois da derrota nas eleições autárquicas de 2001, em que o PS perdeu as principais câmaras municipais, incluindo Lisboa e Porto.
"Defendi que o nosso secretário-geral, Carlos Carvalhas, quando foi chamado a Belém pelo Presidente da República, deveria ter dito perante as câmaras de televisão que o PCP estava disponível para viabilizar um novo governo do PS", disse Carlos Brito, adiantando que este facto terá sido a gota de água que o levou a afastar-se do Partido Comunista.
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