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“O segredo do sucesso passa pelo espírito de sacrifício”

Jornal “O Setubalense”, 18 de Fevereiro de 2008

A fábrica de tortas Azeitonense produz, em média, dez mil tortas por dia, emprega trinta funcionários e já gerou mais de dois milhões de euros. Actualmente, as tortas de Azeitão marcam presença em praticamente todas as superfícies comerciais, grandes e pequenas. Mas há treze anos, a realidade era outra, pois quem quisesse provar este afamado doce teria que se deslocar ao distrito de Setúbal.
O proprietário da fábrica, António Martins, pasteleiro e empresário, pegou nas tortas de Azeitão, um produto regional, que estava subvalorizado e deu-lhe uma marca. Inicialmente, começou a produzir queijadas em casa e a vender de porta a porta. Mas cedo se apercebeu da potencialidade da torta que, segundo o pasteleiro, “tinha características ideias para poder ser trabalhada não só a nível local mas também exterior, uma vez que, tem como recheio o doce de ovo que, ao contrário do creme, aguenta-se por mais tempo”. Assim iniciou, há treze anos, o fabrico deste doce, a nível nacional.
O negócio foi-se adaptando às grandes superfícies, “de forma lenta e sustentada”, refere. Há dez anos começou a fabricar para o hipermercado Jumbo, assumindo a loja de Setúbal e a de Almada. Logo no primeiro ano obteve “um sucesso extraordinário de vendas”, conta o empresário. Após esse período quiseram que vende-se para outras lojas, no entanto, António Martins indicou que não tinha condições para tal. “Eram necessários equipamentos como carros frigoríficos, que não eram fáceis de adquirir”, revela. Algo que foi conseguindo pouco a pouco.
A fábrica foi sofrendo reformas, aumentando à medida que o negócio crescia. Apesar do doce mais conhecido ser a torta de Azeitão, a fábrica Azeitonense também produz outros bolos. As queijadas de Azeitão, queijinhos de Azeitão, esses de Azeitão, cavacas e até bolos integrais são produzidos e vendidos ao público no número 438 da rua S. Gonçalo, em Brejos de Azeitão. Segundo o proprietário todos os bolos são confeccionados sempre “ao gosto do cliente”, com ingredientes o mais naturais possível e “não entrando em concorrências”.
Prova da qualidade de produção desta fábrica é o prémio “Sabor do ano 2008”, conquistado com as tortas e os esses de Azeitão, galardão muito reconhecido em França como símbolo de qualidade no sector alimentar. Esta distinção resultou de várias provas cegas, desprovidas de marca, realizada por vários consumidores anónimos.
Os dividendos que o empresário retira da fábrica servem, de acordo com o mesmo, para promover a marca, porque, “para singrar nas grandes superfícies, onde há muita competitividade, é preciso apostar na publicidade”, explica. Também usa esses lucros para aumentar os salários dos seus trabalhadores, porque “é importante que estejam motivados e não é com salários baixos que se vai para a frente”. Mas também é exigente e escolhe a dedo cada trabalhador, dando sempre preferência àqueles com formação superior. O resto do dinheiro serve para investir, se bem que, grande parte do dinheiro, diz, vai também para o Estado, através dos impostos que o empresário considera “muito altos”.
Para António Martins o segredo do seu sucesso passa, além de ter uma boa equipa de trabalho, pelo espírito de sacrifício que está patente, por exemplo, na ausência de férias. Confessa que “quem tem um negócio deixa de usufruir de outras coisas, há que estar sempre atento e não estagnar, pensar sempre dois ou três anos à frente, mas sempre com calma e segurança”.
No futuro pretende abrir uma nova fábrica, na Estrada Nacional 10, à saída da estação de Coina. O espaço terá dois mil metros quadrados de área coberta, com zona de estacionamento.
António Martins pretende reservar um espaço para uma loja onde irá comercializar vários produtos da região da Arrábida, como mel, queijo, moscatel, rebuçados e até artesanato. Neste campo ambiciona ainda criar um atelier onde haverá alguém a pintar azulejos e onde as pessoas possam encomendar painéis.
Este investimento de 2,1 milhões de euros traduz-se também numa aposta na exportação. O pasteleiro criou outros tamanhos de tortas (mini-tortas e miniaturas) a pensar no mercado internacional e noutro tipo de consumidores e eventos como casamentos, cocktails, etc. “Os ovos e o açúcar agradam a todas as bocas”, garante, daí a certeza do sucesso além fronteiras.

Vera Gomes

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