Jornal "Setubalense", 31 de Dezembro de 2007
O moscatel da José Maria da Fonseca “Torna Viagem” andou vários meses a bordo do navio-escola Sagres passando por África e América do Sul.
O famoso Moscatel de Setúbal “Torna Viagem” da José Maria da Fonseca, já regressou de mais uma viagem por terras e portos Sul-americanos. O “Torna Viagem” viajou a bordo do navio-escola Sagres, que passou por Mindelo, Recife, Santos, Buenos Aires, Montevideu, Rio de Janeiro e Tenerife.
À semelhança do que já aconteceu no ano de 2000, por altura da comemoração dos 500 anos do descobrimento do Brasil, o navio-escola partiu a 29 de Junho de 2007, transportando 4 cascos de Moscatel de Setúbal e 2 cascos de Moscatel de Setúbal Roxo na sua jornada por terras e portos Sul-americanos. Antes da sua chegada a Lisboa, a 16 de Outubro, a Sagres atracou nos portos Sul-americanos de Recife, Santos, Buenos Aires, Montevideu e Rio de Janeiro.
A José Maria da Fonseca descobriu o “Torna Viagem” há mais de um século. Na época em que navios cruzavam os mares do mundo fazendo todo o tipo de comércio, era comum levarem à consignação cascos de Moscatel de Setúbal. Os comandantes, que recebiam pelo que vendiam, nem sempre os conseguiam comercializar todos. Na volta a Portugal, depois do périplo, em que se submetiam a diversos climas e significativas variações de temperatura, os cascos eram devolvidos à casa mãe. Ao serem abertos, o resultado era quase sempre uma grata surpresa: geralmente o vinho estava bastante melhor do que antes de embarcar. A passagem pelos trópicos, a caminho do Brasil, África ou Índia, quando atravessava por duas vezes a linha do Equador, uma na ida, outra na volta, parecia melhorar a qualidade do Moscatel de Setúbal e conferir-lhe grande complexidade.
“Com os choques térmicos sofridos durante a viagem, sabemos que o Moscatel Torna Viagem terá uma cor mais escura e características totalmente diferentes do que ficou cá”, diz António Soares Franco, presidente do conselho de administração da José Maria da Fonseca. Ao provar o Moscatel Torna Viagem, recém regressado, Domingos Soares Franco afirma que "O Moscatel ficou mais redondo, menos agreste. Está maravilhoso". Além das provas frequentes, os enólogos têm outra forma de avaliar as particularidades do “Torna Viagem”: um casco do mesmo vinho permaneceu na adega de Azeitão, enquanto os outros seis corriam os mares. O Testemunha, como é chamado pela JMF, serve para fazer a comparação com os que voltaram.
HISTÓRIA - O “Torna Viagem” nasce de um facto curioso. A José Maria da Fonseca, quando foi fundada em 1834 por José Maria da Fonseca, privilegiou a exportação dos seus vinhos em garrafas. O Moscatel era a excepção praticada na casa, mas foi desta forma que surgiu a raridade e a lenda do “Torna Viagem”. O Moscatel de Setúbal, vinho generoso, tradição da José Maria da Fonseca, é comercializado desde a fundação da empresa há mais de 170 anos. A sua vinificação assemelha-se à do vinho do Porto e da Madeira. A fermentação é interrompida com a adição de aguardente vínica, atingindo uma graduação alcoólica de 18 a 20º. Em seguida, o líquido é macerado por cinco meses em contacto com as películas da uva, para obter maior tipicidade. Por fim, é envelhecido em cascos de carvalho usado de 600 litros, por um período mínimo de 24 meses, antes de ser engarrafado. A José Maria da Fonseca mantém uma cave em Azeitão, chamada de adega dos Teares Velhos, dedicada exclusivamente ao envelhecimento dos moscatéis topo de gama.
Sem comentários:
Enviar um comentário