quinta-feira

Mãe atira-se com filha do cabo Espichel

“Jornal de Notícias”, 31 de Maio de 2007

Um acto de desespero terá estado na origem da tragédia que ocorreu no Capo Espichel, em Sesimbra uma mulher de cerca de 50 anos, acompanhada pela filha, de 25, doente de paralisia cerebral, atirou-se do penhasco ao volante de um automóvel Citroen C3. A queda de mais de 100 metros e o embate nos rochedos foram fatais. Os cadáveres das duas mulheres foram, ontem à tarde, resgatados pelos Bombeiros de Sesimbra e levados para a morgue do Hospital Garcia de Orta, em Almada, depois de uma delicada operação que se prolongou durante várias horas.
O alerta para o desaparecimento foi dado, anteontem à noite, pelo marido, que estranhou o facto de a mulher e a filha não aparecerem em casa, em Alhos Vedros. De manhã, recebera no telemóvel uma mensagem da mulher, em jeito de despedida. Pedia-lhe desculpa pelo fardo que eram na sua vida, mas só à noite começou a perceber o real sentido daquela mensagem.
O homem ainda foi ao Hospital do Barreiro, onde a jovem era habitualmente seguida, mas ninguém as vira por ali. Foi então que participou o desaparecimento às autoridades, primeiro à PSP do Barreiro, depois à GNR da Moita. Ontem de manhã, decidiu ir procurá-las na zona do Cabo Espichel e foi ele quem viu o carro no fundo da falésia. Dirigiu-se à GNR de Alfarim que alertou a Polícia Marítima e os Bombeiros de Sesimbra, que accionaram os meios de resgate. No local estiveram também duas psicólogas, uma do INEM e outra dos bombeiros, que deram apoio ao marido, que preferiu não falar aos jornalistas. O caso foi participado ao Ministério Público, que decidirá, ou não, abrir um inquérito.
Ao que o JN apurou, a mulher não terá conseguido lidar com a notícia do avanço da doença da filha e com o "peso" que isso significava para o marido, padrasto da jovem. O desespero fê-la cumprir uma ameaça que já teria feito algumas vezes.
Segundo o 2º comandante dos Bombeiros de Sesimbra, Luís Saraiva, só este ano já houve três casos de pessoas que se atiraram daquele penhasco, dois deles com carros. Confrontada pelo JN, fonte da Câmara Municipal de Sesimbra disse que o assunto preocupa a autarquia e garantiu que, numa próxima reunião, será discutida uma proposta para vedar o acesso automóvel ao local.

Gina Pereira

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