“Jornal de Notícias”, 10 de Abril de 2006
Em princípios do próximo mês, uma mão cheia de embarcações de pesca tradicional de Viana do Castelo deve começar a rumar em direcção aos portos da região centro do país com um único objectivo o de pescar tubarões. Concretamente, o tubarão azul, mais conhecido por tintureira. A saga, tida como "mais rentável" para os profissionais da região, assinala o regresso à faina deste tipo de peixes por parte da comunidade piscatória alto-minhota, seguindo-se à epopeia do barroso (tubarão de águas profundas), em que estiveram envolvidas dezenas de embarcações e centenas de profissionais da região, há perto de 20 anos.Ao precisar que muitos foram os marítimos que dedicaram mais de uma década à faina do barroso, cujas campanhas chegavam a prolongar-se, nos últimos tempos, por três e quatro dias, Carlos Gonçalves, pescador de Viana do Castelo, que trabalhou no primeiro barco da região a fainar estes peixes, o "Santa Luzia no Monte", assinalou "começámos a pescar o barroso por volta de 1986, devido, em grande parte, à procura desse peixe por compradores da Região Sul, com destaque para comerciantes de Sesimbra, que arrematavam todo o pescado". Uma vez comercializado, ao barroso era-lhe retirado o fígado que, segundo muitos, teria por destino o Japão e a indústria farmacêutica e de cosmética aí estabelecida. Porém, a queda do preço em lota aliada à crescente dificuldade e correspondentes encargos em capturar este tubarão de águas profundas (era pescado à linha a uma profundidade que variava entre os 800 e mil metros) viriam a ditar o fim das campanhas, agora substituídas, durante os meses de Verão, pela da tintureira, realizada entre os portos de Aveiro e da Nazaré."São os melhores meses para a captura deste peixe", assegura José da Guia, dos primeiros pescadores de Viana do Castelo a regressar à faina do tubarão. As campanhas, participadas, no ano passado, por pouco mais de meia dezena de embarcações da cidade, prolongam-se por cinco dias, destinando-se a esmagadora maioria do pescado a lotas da vizinha Galiza. "O peixe atinge aí valores muito mais elevados que em Portugal. É evidente que também gastámos mais dinheiro com isso, mas o esforço tem, até ao momento, compensado", assegurou. A exemplo do que se passava com o barroso, do qual se extraía o fígado, à tintureira são-lhe retiradas as barbatanas, que têm por destino mercados do Sudeste Asiático, com relevo para Hong-Kong.
Luís Henrique Oliveira
Sem comentários:
Enviar um comentário